Como a história de CINDERELA, que é universal, o conto popular MARIA BORRALHEIRA é encontrado em várias regiões do Brasil. Encontrei várias Marias nas minhas andanças pelo país. As versões mudam, mas a essência da história é a mesma. Criei minha versão a partir das muitas histórias que ouvi.
CENA : Entram pela platéia o VIOLEIRO e o CONTADOR .
CONTADOR : Olha, veio gente !
VIOLEIRO : Veio gente assistir!
CONTADOR: Tem gente assim...
VIOLEIRO: Tem gente assado...
CONTADOR: Tem gente frita...
VIOLEIRO: Tem ensopado!
(OS DOIS VÃO PARA O PALCO FAZENDO BARULHO COM INSTRUMENTOS DE PERCUSSÃO E CANTANDO)
MÚSICA : CHEGADA
Ei...tá, que veio gente ! / Veio gente assistir !
Uma gente inteligente / Que veio se divertir !!
Ei...tá, que veio gente ! / Veio gente assistir !
Um povo muito contente / Que vai nos aplaudir !!
Ei...tá, que veio gente ! / Veio gente assistir !
Uma gente inteligente / Que veio se divertir !!
VIOLEIRO : (JÁ NO PALCO) Peraí !! E o que a gente veio fazer aqui ?
CONTADOR : Veio contar uma história!!
VIOLEIRO : Então começa homem!
CONTADOR : É pra já !!! Mas antes a gente tem que pedir licença !!!
VIOLEIRO : Pra quem ?
CONTADOR : Pra Mãe de todos nós !!
VIOLEIRO : A minha mãe não tá aqui não !
CONTADOR : Que sua mãe, rapaz !!! A MÃE de todos nós !! A Grande Advogada!! A Mãe do Salvador !!!
VIOLEIRO : E tem que pedir licença ?
CONTADOR : Evidente !!! Pra história sair direita !!
Valei me, Nossa Senhora ! Mãe de Jesus de Nazaré !!!
Mãe de Coração / Rainha de todo mundo !
Peço vossa atenção. / Pra esses dois vagabundos .
Uma história queremos “contá” / Essa é nossa intenção.
Se a senhora “abençoá” / Será grande a emoção !
Se for de seu agrado / A história linda será,
Mas sem ser abençoado / A coisa pode “azedá” !
Dê nos seu alento / Mãe do Salvador !!!
Ajude nesse momento / Esse pobre Contador !!
Vós sois rainha dos anjos, / Também sois dos pecadores;
Pedimos com piedade / Por estes nossos clamores.
Valei me, Nossa Senhora ! Mãe de Jesus de Nazaré !!!
VIOLEIRO : E agora pode ser ?
CONTADOR : Agora acho que pode !!
VIOLEIRO : Mas a gente vai contar história de quê ?
CONTADOR : Vai contar história brasileira !!
VIOLEIRO : E é boa ?
CONTADOR : É mais do que boa ... É ótima !!!
VIOLEIRO : Então conta, homem !!!
CONTADOR : Pois então eu vou contar uma história bem brasileira que aconteceu há muito tempo atrás... Num tempo que nenhum de vocês aqui era vivente...No tempo dos avós dos nossos avós... Numa cidade muito distante morava um viúvo com sua filhinha. Uma menina linda de nome Maria. Não era a Mãe do Salvador, mas era tão bonita ... tão bonita que parecia feita de porcelana.
(VIOLEIRO CANTA)
MÚSICA : MARIA, MINHA MARIA
Maria, minha Maria / Não é a de Nazaré.
Maria, minha Maria / Que linda que ela é.
Quando era pequenina / Cantava que retinia:
Cantou em Sorocaba, / No Oriente se ouvia
Maria, minha Maria / Não é a de Nazaré.
Maria, minha Maria / Que linda que ela é.
Sois a flor mais delicada / Que criou a natureza.
Sois mais linda que a rosa, / Que brilha com mais grandeza
Maria, minha Maria / Não é a de Nazaré.
Maria, minha Maria / Que linda que ela é.
Eu não canto por cantar, / Nem por ser bom cantador,
Canto por matar saudades / Que tenho do meu amor..
Maria, minha Maria / Não é a de Nazaré.
Maria, minha Maria / Que linda que ela é.
VIOLEIRO : Ela era tão bonita assim ?
CONTADOR : A Maria ? A Maria era mesmo uma belezura que dava gosto de ver! Todo mundo na cidade sabia disso. E nesta mesma cidade morava também uma viúva. (MOSTRA O BONECO FEITO COM UMA VASSOURA)
VIOLEIRO : Eitá! Que mulher feia! Tem cara de vassoura vestida!
CONTADOR : Fica quieto, rapaz! Deixa eu contar a história! A Dona Viúva tinha duas filhas.
VIOLEIRO : Eram bonitas como a Maria ?
CONTADOR : Não... Elas não era tão bonitas quanto Maria.
VIOLEIRO : Eram mais ou menos bonitas ?
CONTADOR : Elas não eram nada bonitas!
VIOLEIRO : Como elas eram ?
CONTADOR : Na verdade elas eram bem feias mesmo! (MOSTRA AS BONECAS FEITAS DE VASSOURINHAS) Feias que dava pena de vê!
VIOLEIRO : Olha aí! Mais vassoura vestida!
CONTADOR : Mas a nossa Maria toda vez que ia para a escola passava na frente da casa da tal viúva. E a viúva lhe agradava muito, fazendo uma festa danada, dava-lhe presentes. E sempre pedia para Maria falar com seu pai para se casar com ela. Maria falava, mas o pai lhe dizia:
VIOLEIRO : (PÕE UM CHAPÉU E FALA COMO PAI ) - Maria, esta mulher hoje lhe dá papinhas de mel, mas depois do casamento lhe dará papinhas de fel.
CONTADOR : Que diacho é FEL?
VIOLEIRO : (COMO PAI) É uma coisa muito amargosa que não dá pra engoli!
CONTADOR : Argh! Mas a viúva tanto insistia com Maria e a menina tanto insistia com o pai, que o homem não sabia como resolver. Um dia teve uma ide0ia e falou pra Maria:
VIOLEIRO : (COMO PAI) – Maria, eu só caso com a viúva depois de você gastar esses sapatinhos!
(VIOLEIRO ENTREGA OS SAPATOS PARA O CONTADOR)
CONTADOR : (PEGANDO OS SAPATOS) Xiiii! Agora que não tem casamento mesmo. Como é que a Maria vai gastar esses sapatos ? É sapato de quê ?
VIOLEIRO : (COMO PAI) É sapato de ferro !
CONTADOR: De ferro?! Vai demorar muito. Não vai dar jeito. Mas a viúva, que era entendida nas artes da bruxaria, disse pra Maria: (OUTRO TOM – FALA COMO SE FOSSE A VIÚVA) Não se preocupe Maria. Eu sei como resolver. Você vai fazer xixi em cima do sapato e o sapato vai ficar estragadinho... Estragadinho...
VIOLEIRO: (TOM NORMAL – SEM O CHAPÉU) Mas isso é coisa que se faça. Mandar a menina fazer xixi em cima do sapato !
CONTADOR : É... Não é muito bonito... Mas a Maria fez. Ela achava que a viúva ia ser uma boa esposa para o pai dela. A Maria pegou o sapato, botou dentro de uma bacia e... Fez xixi em cima ( O CONTADOR PEGA O SAPATO PÕE NA BACIA. DEPOIS PEGA UM REGADOR E MOLHA O SAPATO) Gente... Não é que deu certo !!! O sapato ficou estragadinho... Estragadinho !! E o pai da Maria, que jeito, casou com a viúva que passou a ser a madrasta da menina.
(VIOLEIRO TOCA UM PEDAÇO DA MARCHA NUPCIAL)
CONTADOR : Nos primeiros tempos do casamento as papinhas continuaram sendo de mel. Mas, infelizmente, o pai de Maria teve um piripaquê e... morreu !
(VIOLEIRO TOCA UM PEDAÇO DA MARCHA FUNEBRE. O CONTADOR GUARDA O CHAPÉU)
VIOLEIRO : Quanta tristeza pra Maria!
CONTADOR : (VOLTANDO) É! Mas vocês não virão nada! Porque as papinhas que eram docinhas feito mel se transformaram naquela coisa amargosa... Num fel terrível. Maria era obrigada a fazer todo o serviço da casa. Depois que ficou maiorzinha, foi tirada da escola e obrigada a fazer os serviços mais difíceis. Era ela quem rachava lenha. Ela que pegava água no riacho. Ela que limpava a casa toda.
( VIOLEIRO CANTA )
MÚSICA : MARIA BORRALHEIRA
Quem é que só trabalha?
Quem vive na sujeira?
Quem leva uma cangalha?
É Maria Borralheira!
Quem é que só trabalha?
Quem vive na sujeira?
Quem leva uma cangalha?
É Maria Borralheira!
Lava, passa e encera,
Limpa, seca e cozinha,
Costura, racha e tempera!
Como trabalha, a coitadinha!
Varre, corta e rega,
Pinta, borda e esfarinha,
Capina, torce e esfrega!
Como trabalha, a coitadinha !
Quem é que só trabalha?
Quem vive na sujeira?
Quem leva uma cangalha?
É Maria Borralheira!
Quem é que só trabalha?
Quem vive na sujeira?
Quem leva uma cangalha?
É Maria Borralheira!
VIOLEIRO : Coitada! Quanto trabalho!
CONTADOR : É, rapaz ! Como a Maria vivia sempre muito suja do trabalho, no meio da sujeira, do borralho, passou a ser chamada de Maria Borralheira.
VIOLEIRO : Que nome esquisito!
CONTADOR : Esquisito mesmo. E a pobre só trabalhava nem tinha tempo de reclamar. E a Madrasta adorava inventar os piores serviços para Maria fazer. Certa vez, ela lhe deu uma tarefa muito grande de algodão (PEGA A TAREFA) e disse assim : (VOZ DA MADRASTA) “Sua preguiçosa, eu quero esse algodão todo fiado e enrolado ainda hoje. E se não estiver pronto no fim do dia... vais entrar no chinelo !!” (TOM NORMAL) A tarefa era realmente muito grande e Maria não sabia como resolver. E foi chorando ter com sua vaquinha.
VIOLEIRO : Uma vaquinha ? Que vaquinha é essa ?
CONTADOR : (PEGA A VAQUINHA) Essa vaquinha era a única coisa que a mãe da Maria tinha deixado para ela. Só que a Maria não sabia que a vaquinha era mágica. Ao ver a menina tão triste, a vaquinha falou... a vaquinha falava porque era mágica, né ?
VIOLEIRO : (COMO A VACA) - Oh, Maria, não chore não. Brinque aqui perto de mim, que eu resolvo o problema.
(VIOLEIRO TOCA UMA CIRANDA )
CONTADOR : E, Maria ficou por ali brincando ! E a vaquinha comeu toda a tarefa de algodão. E no final do dia botou pra fora o algodão fiado e enrolado em novelos muito brancos. Depois, a Maria pegou os novelos e entregou a madrasta. E a bruxa velha ficou desconfiada, mas não falou nada.
VIOLEIRO : Será que ela vai descobrir como a Maria fez o trabalho ?
CONTADOR : Que nada !! Essa Madrasta é muito burra !! Mas no dia seguinte, a Madrasta deu para Maria uma tarefa de algodão maior ainda, dizendo : (VOZ DA MADRASTA) “Aquele algodão não estava bem fiado. Quero este muito bem fiado e enrolado para hoje ainda”.
VIOLEIRO : Que mulher chata !!
CONTADOR : Maria pegou a nova tarefa, levou para a vaquinha e ficou por ali brincando.
( VIOLEIRO TOCA UMA CIRANDA )
CONTADOR : A vaquinha comeu tudo. E no final do dia botou pra fora, o algodão fiado e enrolado em novelos ainda mais brancos. Maria juntou tudo e levou para a Madrasta, que ficou mais desconfiada ainda.
VIOLEIRO : Xiii... Agora ela descobre tudo !!!
CONTADOR : Que nada !!! A madrasta é muito burra mesmo !! E no terceiro dia, ela juntou todos aqueles novelos e entregou a Maria dizendo : (VOZ DA MADRASTA) “Quero tudo transformado em rendas. As rendas mais finas e delicadas para colocar nos meus vestidos. E quero tudo para hoje mesmo.” (VOLTA O OUTRO TOM) Maria pegou os novelos e levou para a vaquinha.
VIOLEIRO : Essa Madrasta não vai descobrir nunca como a Maria faz o trabalho .
CONTADOR : Será ? A Madrasta ficou tão desconfiada, mas tão desconfiada, que mandou que as filhas seguissem Maria para saber como a menina resolvia aquelas tarefas com tanta facilidade.
VIOLEIRO : Xiiii. É agora que a porca torce o rabo !!!
CONTADOR : A porca não, a vaca !!! As filhas da Madrasta de início não quiseram, mas foram atrás da Maria. E elas viram tudo : Maria entregou os novelos a vaquinha e ficou por ali brincando
( VIOLEIRO TOCA UMA CIRANDA )
CONTADOR : A vaquinha comeu tudo e no final do dia botou para fora as rendas mais finas e delicadas. Tudo branquinho, feito por mãos de fada.
VIOLEIRO : Que beleza !!!
CONTADOR : Maria pegou as rendas e levou para a madrasta. Que não ficou desconfiada, não.
VIOLEIRO : Claro ! Ela já sabia de tudo !
CONTADOR : A Madrasta falou assim : (VOZ DA MADRASTA) ”Que rendas mais bonitas... mais delicadas... Vendo isso tudo me deu uma vontade...
VIOLEIRO : Uma vontade ?
CONTADOR : Um desejo ...
VIOLEIRO : Um desejo ?
CONTADOR : Uma vontade e um desejo... de comer carne de vaca !! E eu quero comer aquela sua vaquinha !!
VIOLEIRO : Ah... que judiação !!
CONTADOR : (TOM NORMAL) Pois é, mandou matar a vaquinha da Maria. A mocinha ficou triste e foi chorando ter com sua vaquinha. Mas a vaquinha novamente a acalmou:
VIOLEIRO : (VOZ DE VACA) - Deixe, Maria. Depois que me matarem, você pega o meu couro e leva para lavar no riacho. No meio da sujeira você vai encontrar uma varinha. Essa varinha é mágica e vai lhe dar tudo que você pedir. Depois do couro lavado, você coloca o couro numa bacia e coloca a bacia no riacho. Deixa a água levar. Vai seguindo a bacia. Quando a bacia parar, você vai encontrar um velhinho todo machucado e com muita fome. Cuide das feridas e dê comida ao velhinho. A bacia vai continuar e você vai atrás. Quando a bacia parar de novo, você vai encontrar uma casa grande, meio suja, meio quebrada, cheia de cachorros e gatos com fome. Dê comida aos bichos e limpe o mais que puder a casa. Depois, se esconda atrás da porta. Entendeu ?
CONTADOR : Maria entendeu. E assim foi, mataram a vaquinha de Maria. Ela pegou o couro e foi lavar no riacho. No meio da sujeira achou a varinha mágica, que guardou. Depois do couro lavado, ela colocou o couro numa bacia, (VIOLEIRO TRAZ A BACIA E A ENTREGA AO CONTADOR) colocou a bacia no riacho (CONTADOR COLOCA A BACIA NO LADO ESQUERDO DO PALCO) e deixou a água levar. (A BACIA É PUXADA POR FIOS PELO VIOLEIRO) Foi seguindo a bacia. Quando a bacia parou ela encontrou o velhinho. (VIOLEIRO APRESENTA O BONECO) Todo machucado e com muita fome. Ela deu comida ao velho e cuidou o mais que pode de seus machucados. A bacia continuou e Maria foi atrás. (VIOLEIRO PUXA A BACIA) Quando a bacia parou, lá estava a casa. Casa grande... meio suja... meio quebrada. Cheia de cachorros e gatos.
VIOLEIRO : Cadê os cachorros e os gatos ?
CONTADOR : (P/PLATÉIA) Como é que faz o cachorro, gente ? (...) E os gatos ? (...) Aí estão os cachorros e os gatos !! A Maria deu comida aos bichinhos e entrou na casa. Limpou, arrumou, ajeitou o mais que pode. Ela estava acostumada a fazer isso. Depois, se escondeu atrás da porta. (PEGA OS BONECOS DAS VELHAS – OS BONECOS ESTÃO ARRUMADOS COMO UM ESTANDARTE QUE SERÁ MANIPULADO PELO CONTADOR) Logo apareceram três velhas, muito velhas mesmo, que quando viram aquela arrumação toda ficaram muito satisfeitas:
( VIOLEIRO CANTA )
MÚSICA : QUEM MUITO BEM ME FEZ
Eu falo e não me engano. / Repito outra vez.
Eu sei o que estou falando. / E digo pra vocês :
Quem muito bem me fez / Muito bem receberá
Quem muito bem me fez / Muito bem receberá
Vai receber flores, amores, / Quem nunca esquecerá.
Vai receber cores, favores, / Quem nunca esquecerá.
CONTADOR : A mais nova das velhas começou:
(VOZ DE VELHA) - Quem muito bem me fez, muito bem receberá! Que surja em sua testa uma estrela de ouro!
(TOM NORMAL) A velha do meio continuou:
(VOZ DE VELHA) - Quem muito bem me fez, muito bem receberá! Que surja em seus pés sapatinhos de ouro!
(TOM NORMAL) E a mais velha das velhas, que era a mais sabia, terminou:
(VOZ DE VELHA)- Quem muito bem me fez, muito bem receberá! Que ao falar saiam de sua boca faíscas de ouro!
VIOLEIRO : Nossa !!! Quanto presente !!
CONTADOR : Maria saiu de trás da porta já enfeitada com esses lindos presentes. Foi agradecer as velhas e encheu de ouro o lugar. Resolveu, então, voltar pra casa. (GUARDA OS BONECOS)
VIOLEIRO : E como ela vai voltar pra casa toda enfeitada assim ? A Madrasta pode não gostar.
CONTADOR : Ela teve o cuidado de amarrar um pano na testa para esconder a estrela, guardou os sapatinhos de ouro e falou o menos possível.
VIOLEIRO : Mas ninguém viu esses presentes todos ?
CONTADOR : As filhas da madrasta perceberam o brilho da estrela por detrás do pano e foram correndo contar para a mãe. A madrasta então falou : (VOZ DA MADRASTA) – “Meninas, voltem lá e perguntem a Maria como ela conseguiu esses presentes tão bonitos. Quero vocês com os presentes também!!”
VIOLEIRO : Já vi tudo !! As meninas voltaram, perguntaram e Maria contou...
CONTADOR : Contou... só que lá do jeito dela:
VIOLEIRO : Eu agora vou ser a Maria!! (VOZ DA MARIA ) - Olha, quando matarem uma vaquinha aqui, vocês peguem o couro e levem para lavar no riacho. Depois do couro lavado, vocês coloquem ele na bacia, coloquem a bacia no riacho e deixem a água levar. Vão seguindo a bacia. Quando a bacia parar, vocês vão encontrar um velhinho todo machucado e com muita fome. Pois cada uma de vocês pegue um pedaço de pau e batam bastante no velho. A bacia vai continuar e vocês vão atrás. Quando a bacia parar, vocês vão encontrar uma casa grande, meio suja, meio quebrada, cheia de cães e gatos. Cada uma de vocês já tem um pau na mão, então, batam nos bichos. Bota tudo pra correr. Entrem na casa e sujem mais ainda o lugar. Depois se escondam atrás da porta. É só isso".
CONTADOR : As duas filhas da Madrasta correram para contar a mãe. A Madrasta mandou matar uma vaquinha, imediatamente. (A CENA É FEITA COMO NA ANTERIOR - SÓ QUE EM RITMO ACELERADO) As moças pegaram o couro, lavaram... lavaram... lavaram... botaram o couro na bacia, botaram a bacia no riacho e deixaram a água levar. Foram seguindo a bacia. Quando a bacia parou lá estava o velho. (VIOLEIRO APRESENTA O BONECO) Olha, elas deram tanto no pobre do velho que quase mataram. A bacia continuou e elas foram atrás. Quando parou, lá estava a casa. Grande, meio suja, meio quebrada, cheia de cachorros e gatos.
VIOLEIRO : Cadê os cachorros e os gatos ?
CONTADOR : Ai, meu Deus do Céu !!! (P/PLATÉIA) Cachorrada !!! (...) Gataiada!!! (...) Pronto, estão aí !! Mas as filhas da Madrasta botaram os bichos todos pra correr. Era cachorro prum lado... gato prum outro... Uma confusão!! As danadas entraram na casa, sujaram e quebraram tudo, e se esconderam atrás da porta. (CONTADOR PEGA OS BONECOS) Logo apareceram as três velhas que quando viram aquela bagunça toda, não gostaram nada, nada:
( VIOLEIRO CANTA )
MÚSICA : QUEM MUITO MAL ME FEZ
Eu falo e não me engano. / Repito outra vez.
Eu sei o que estou falando. / E digo pra vocês :
Quem muito mal me fez / Muito mal receberá
Quem muito mal me fez / Muito mal receberá
Vai receber dores, calores, / Quem nunca esquecerá.
Vai receber horrores, tremores, / Quem nunca esquecerá.
CONTADOR : A mais nova das velhas começou:
(VOZ DE VELHA) - Quem muito mal me fez, muito mal receberá. Que surja em sua testa um rabo de cavalo !
(TOM NORMAL) A velha do meio continuou:
(VOZ DE VELHA)- Quem muito mal me fez, muito mal receberá. Que seus pés se transformem em cascos de cavalo!
(TOM NORMAL) E a mais velha das velhas, que era a mais terrível, terminou:
(VOZ DE VELHA)- Quem muito mal me fez, muito mal receberá. Que ao falar, saiam de sua boca toda a sujeira e porcaria dos cavalos!
VIOLEIRO : Ei... tá !!! Agora estragou !!! Quanto presente ruim, meu Deus !!!
CONTADOR : (TOM NORMAL) As filhas da madrasta saíram de trás da porta já enfeitadas com esses terríveis presentes. Foram falar com as velhas e emporcalharam mais ainda o lugar. (GUARDA OS BONECOS)
VIOLEIRO : Coitadas !!! Elas devem ter ficado horrorosas !!!
CONTADOR : Coitadas nada !! Bem feito !!! As meninas voltaram para casa. A Madrasta quando as viu ficou muito triste - mas passou ...
VIOLEIRO : Passou o quê ?
CONTADOR : O tempo...
( VIOLEIRO CANTA )
MÚSICA : TEMPO
Passa o tempo, passa o tempo. / Passa tudo sem pensar.
Passa o dia, passa a noite. / Meu amor não passará.
Passa o tempo, passa o tempo. / Logo tudo vai mudar
Passa a vida, passa a morte / Meu amor não passará
Passa o tempo, passa o tempo. / Logo mais vou te encontrar
Passa tudo, passa nada. / Nosso amor não passará
CONTADOR : Tempos depois, foram anunciados três dias de festa na cidade.
VIOLEIRO : Oba !!! Festa !!! Adoro festa !!!
CONTADOR : E, olha, era festa para não acabar mais. Toda a cidade ia na festa, menos Maria.
VIOLEIRO : Porquê ?
CONTADOR : A madrasta não deixou : (VOZ DA MADRASTA) – Claro que você não vai ! Imagina uma empregada... uma borralheira imunda ir a uma festa. (TOM NORMAL) E Maria pareceu que aceitou.
VIOLEIRO : Que estranho... Logo a Maria, esperta como ela só, aceitar uma coisa dessas...
CONTADOR : Rapaz, espera pra ouvir o resto da história !! No primeiro dia de festa, depois que a madrasta e as filhas se vestiram, se arrumaram, se empetecaram pra festa...
VIOLEIRO : Vem cá... como é que as filhas da Madrasta se arrumaram com aqueles cascos e rabo de cavalo na testa ?
CONTADOR : Elas deram um jeito ! Mas depois que elas saíram, Maria correu pegou a varinha mágica e pediu:
VIOLEIRO : Eu vou ser a Maria de novo : (VOZ DE MARIA) - Varinha mágica, pela mágica que Deus te deu, eu quero um vestido... com as cores do campo. E uma carruagem de bronze.
( VIOLEIRO CANTA )
MÚSICA : DA COR DA TERRA
Com a cor da Terra / Eu quero me enfeitar.
Cheia de flores / Logo vou ficar.
Cheiro de verde / Vai me perfumar.
Com a cor da Terra / Eu quero me enfeitar.
CONTADOR : E apareceu. (PEGA UM BRINQUEDO POPULAR COM AS CORES DO VESTIDO) Um vestido tão bonito. Rodado. Como vestido de dama antiga. Todo enfeitado com as cores do campo : dos amarelinhos das margaridas, aos verdes mais brilhantes . E a carruagem : De bronze, toda desenhada. Maria calçou seus sapatinhos de ouro e foi para a festa.
VIOLEIRO : Oba !!! Olha a festa aí, gente !!
(VIOLEIRO TOCA MÚSICA DE FESTA)
MÚSICA : FESTA
Tem festa no arraial, / Tem sim senhor !
Três dias inteiros / Pra encontrar meu amor
O que tem, o que tem / O que tem na festa ?
O que tem, o que tem / O que tem na festa ?
No primeiro dia :
Tem moça bonita / Toda enfeitada
Vestida chita / Parece encantada
Tem muita comida, / Doce e cocada.
Pra lambe os beiços / E animar a criançada.
Tem festa no arraial, / Tem sim senhor !
Três dias inteiros / Pra encontrar meu amor
CONTADOR : Quando a Maria chegou a festa estava no auge. O povo todo vendo aquela moça tão bonita ficou encantado. E ninguém reconheceu a Maria. Bem, ninguém, não : Uma das filhas da madrasta olhou para aquela moça e achou ela meio parecida com a Maria e falou com a mãe:
VIOLEIRO : Agora eu sou a filha da Madrasta. – Mãe, aquela ali até parece com a Maria!
CONTADOR : (VOZ DA MADRASTA) - Cala a boca !! Já está saindo a sujeira... Estão todos olhando ...
(VIOLEIRO VOLTA A TOCAR )
CONTADOR : Maria se divertiu, brincou, dançou... mas a festa já estava terminando, e ela tinha que ir embora...
VIOLEIRO : (PARA DE TOCAR) Porquê ?
CONTADOR : Por que ela tinha que chegar em casa antes da madrasta.
VIOLEIRO : Ah... pra Madrasta não desconfiar...
CONTADOR : Isso ! E assim foi. Quando a madrasta chegou em casa com as filhas, Maria já estava vestida com seus andrajos no meio do borralho. A Madrasta pegou a filha pelo braço e foi logo dizendo: (VOZ DA MADRASTA) - Olha, minha filha! Vê! Então, aquela moça bonita e rica poderia ser essa borralheira, essa porca!
VIOLEIRO : Que mulher mais horrorosa !!! Sem coração !!! E a Maria falou o quê?
CONTADOR : Maria nada falou . No segundo dia de festa, depois que a madrasta e as filhas saíram, Maria pegou sua varinha e pediu:
VIOLEIRO : (VOZ DE MARIA) - Varinha mágica, pela mágica que Deus te deu, eu quero um vestido...com as cores do mar. E uma carruagem mais bonita que a primeira!
( VIOLEIRO CANTA )
MÚSICA : DA COR DO MAR
Com a cor do Mar / Eu quero me enfeitar.
Cheia de ondas / Logo vou ficar.
Cheiro de brisa / Vai me perfumar.
Com a cor do Mar / Eu quero me enfeitar.
CONTADOR : E apareceu. Um vestido lindo. (PEGA UM BRINQUEDO POPULAR COM AS CORES DO VESTIDO) Rodado também, mas como vestido de princesa. Todo enfeitado com as cores do mar. Eram azuis, verdes... Um pouquinho de branco na barra como a espuma das ondas que quebram na praia. Cheio de peixinhos coloridos que nadavam entre as saias. E a carruagem? De prata. Muito mais bonita que a primeira. Maria calçou seus sapatos de ouro e foi para a festa.
(VIOLEIRO TOCA)
MÚSICA : FESTA
Tem festa no arraial, / Tem sim senhor !
Três dias inteiros / Pra encontrar meu amor
O que tem, o que tem / O que tem na festa ?
O que tem, o que tem / O que tem na festa ?
No segundo dia :
Tem moça faceira / Que dança bonito.
Dá nó nas cadeira. / Deixa o povo aflito !
Tem brincadeira, / Roda e baião.
Dança da cadeira. / Alegria no coração.
Tem festa no arraial, / Tem sim senhor !
Três dias inteiros / Pra encontrar meu amor
VIOLEIRO : Mas essa festa tá muito boa !!!
CONTADOR : E você nem sabe quem está na festa !
VIOLEIRO : (PARA DE TOCAR) Quem é que tá na festa ?
CONTADOR : O Príncipe !!!
VIOLEIRO : Ei... tá !!! Nem me diga !! Aquele Príncipe bonitão ?
(VIOLEIRO VOLTA A TOCAR )
CONTADOR : Mais bonito que qualquer galã de televisão !! Pois neste dia o Príncipe estava na festa. Quando o Príncipe viu a Maria, ficou louco. Foi se aproximando. Quis logo dançar. E os dois dançaram, conversaram a noite toda. A Madrasta, lá de onde ela estava, ficou olhando para aquela moça e começou a achar ela muito parecida com Maria. Mas não falou nada. A festa estava terminando e Maria tinha que ir embora.
VIOLEIRO : De novo ? Deixa ela ficar mais !!!
CONTADOR : O Príncipe também pediu para ela ficar. Mas ela tinha que chegar em casa antes da Madrasta. Maria jurou que voltava no dia seguinte e foi embora. Quando a Madrasta chegou em casa, Maria já estava lá vestida com seus andrajos no meio do borralho. Mas a madrasta foi ter com Maria: (VOZ DA MADRASTA) - É, Maria. Realmente, na festa, tinha uma moça muito parecida contigo. Não eras tu?
VIOLEIRO : (VOZ DE MARIA) - Comigo, senhora? Imagina se uma moça que vai a uma festa pode parecer com uma empregada suja e porca. Uma borralheira. Além do mais, a senhora me proibiu de ir a festa. E eu não ia desobedecer.
CONTADOR : (TOM NORMAL) E a madrasta acreditou em Maria. No terceiro dia de festa, o melhor deles, depois que a madrasta e as filhas saíram, Maria correu, pegou sua varinha e pediu :
VIOLEIRO : Eu não quero ser a Maria de novo !!
CONTADOR : Anda, rapaz !! Deixa de besteira que a história tem que continuar!!!
VIOLEIRO : Tá bom !!! (VOZ DE MARIA) - Varinha mágica, pela mágica que Deus te deu, eu quero um vestido... com as cores do céu. E uma carruagem mais bonita que as outras duas.
( VIOLEIRO CANTA )
MÚSICA : DA COR DO CÉU
Com a cor do Céu / Eu quero me enfeitar.
Cheia de estrelas / Logo vou ficar.
Cheiro da noite / Vai me perfumar.
Com a cor do Céu / Eu quero me enfeitar.
CONTADOR : Gente... E apareceu. (PEGA UM BRINQUEDO POPULAR COM AS CORES DO VESTIDO) Um vestido, mas um vestido ... Maravilhoso!! Rodado também, mas como vestido de Rainha. Todo enfeitado com as cores do céu. Eram azuis, cinzas, brancos... Cheio de estrelas que piscavam sem parar. E a carruagem? De ouro. Cravejada de diamantes. Maria calçou seus sapatinhos de ouro e foi para a festa.
(VIOLEIRO TOCA)
MÚSICA : FESTA
Tem festa no arraial, / Tem sim senhor !
Três dias inteiros / Pra encontrar meu amor
O que tem, o que tem / O que tem na festa ?
O que tem, o que tem / O que tem na festa ?
No terceiro dia :
Tem moça apaixonada / E moço também.
Suspira, que suspira / A procura do seu bem
Meu bem já encontrei / Bem no meio da festa.
Quero lhe dar uma flor / E um beijo na testa.
Tem festa no arraial, / Tem sim senhor !
Três dias inteiros / Pra encontrar meu amor
VIOLEIRO : (PARA DE TOCAR) E o Príncipe ? Cadê o Príncipe ?
CONTADOR : O Príncipe já estava esperando a chegada de Maria. Ele estava quase apaixonado por ela...
VIOLEIRO : Como assim : “quase apaixonado” ??
CONTADOR : Eu digo que ele estava quase apaixonado por ela, porque, quando ele viu a Maria com aquela roupa maravilhosa, ele ficou completamente apaixonado por ela.
VIOLEIRO : Ah, bom !!!
(VIOLEIRO VOLTA A TOCAR )
CONTADOR : Dançaram... Brincaram... se divertiram... Mas a festa estava terminando e Maria tinha que ir embora.
VIOLEIRO : (PARA DE TOCAR) Dessa vez o Príncipe não vai deixar !!
CONTADOR : Ele bem que tentou ! O Príncipe pediu, chorou, implorou para que ela ficasse. O povo todo, vendo a tristeza do príncipe, pediu, chorou, implorou também.
VIOLEIRO : (P/PLATÉIA) Vamos lá, gente !! Todo mundo : “Fica Maria !!! Fica Maria!!“
CONTADOR : Naquela confusão, Maria teve que sair correndo e perdeu um dos sapatinhos. Mas o príncipe achou e jurou que só se casaria com a moça em que coubesse aquela sapatinho .
(VIOLEIRO TOCA UMA CORNETA.
PEGA UM ROLO DE PAPEL E DESENROLA)
VIOLEIRO : (COMO NUM DECRETO) “Por ordem de Sua Majestade o Rei todas as moças da cidade terão que experimentar o sapatinho de ouro achado por seu filho o Príncipe. Naquela que, por fortuna, couber o sapatinho, se casará com o herdeiro do trono, o Príncipe !! “
CONTADOR : No dia seguinte os emissários do rei, pai do Príncipe, foram em todas as casas onde havia moças para experimentar o sapatinho, mas não cabia em nenhuma.
VIOLEIRO : Também, as moças com os pés desse tamanho !!!
CONTADOR : Até que só restou a casa da Madrasta da Maria. Quando os emissários do rei bateram na porta, as filhas da madrasta vieram correndo...
VIOLEIRO : Será que o sapatinho vai caber nelas ?
CONTADOR : Claro que não !! Elas quase amassaram o sapatinho com os cascos de cavalo. Nelas também não deu. Os emissários perguntaram a madrasta se havia mais alguma moça na casa. (VOZ DA MADRASTA) - Tem a Maria. Mas é uma borralheira porca. Uma empregadinha que sequer foi a festa!
VIOLEIRO : Que mulher malvada !!!
CONTADOR : Mas a ordem era experimentar o sapatinho em todas as moças do reino. Maria foi chamada. E ela veio... (PEGA O ÚLTIMO BRINQUEDO COM AS CORES DO VESTIDO) com o terceiro vestido. O vestido com as cores do céu e um dos sapatinhos de ouro na mão. Os emissários quando viram aquilo ficaram encantados. Calçaram os sapatinhos de ouro em Maria e a levaram para o palácio. A madrasta ficou com tanta raiva que teve um ataque e caiu morta para trás.
VIOLEIRO : Bem feito !!!
CONTADOR : E Maria casou-se com o príncipe e eles viveram felizes para sempre. E acabou a história !!!
VIOLEIRO : Que história mais linda !!!
CONTADOR : E agora vamos agradecer :
Na graça de Nossa Senhora
Podemos contar.
Uma história bonita
Que só fez alegrar !
VIOLEIRO : Levamos desse momento
Uma doce recordação.
Guardada com carinho
E com grande emoção.
OS DOIS : Aqueles que nos ouviram
Obrigado pela atenção.
Pedimos se não for muito
Aplausos de coração.
CONTADOR : E vamos s’imbora, Violeiro !!!
VIOLEIRO : Vamos s’imbora, Contador !!!
( VIOLEIRO E CONTADOR CANTAM )
MÚSICA : QUEM CONTA UM CONTO...
Quem conta um conto... / Quem vai contar...
Aumenta um ponto / E faz sonhar!
Entrou mudo, / E saiu falante.
Manda o rei / Que conte bastante
Entrou na semana, / E saiu pelo mês.
Manda o rei, / Que conte outra vez.
Entrou na galinha, / Saiu pelo ovo.
Manda o rei, / Que conte de novo.
Quem conta um conto... / Com paixão.
Aumenta um ponto / No coração!
FIM
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