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VÊNUS NA PARTE VELHA DA CIDADE

 

O cenário é de degradação e sem regras, onde crime e pecado são rotinas. É um lugar de perversão, mortes, traições, ilusões, sonhos perdidos, loucura — tudo à flor da pele. Lá, o corpo é moeda de troca. Nas partes mais sombrias desse espaço urbano que se passa a trama escrita por Augusto Pessôa. Com uma narrativa instigante e despudorada, Vênus – na parte velha da cidade traz 14 contos independentes, mas que dialogam entre si,  cujos personagens vivem em uma terra abandonada pelo poder público. Eles não têm outro nome senão os de guerra. São estereótipos de pessoas que viveriam ao nosso redor: a Gorda, dona da boate; o Preto sem dentes que guarda os carros, Maria Grandona, Torta, Mamãe, Mais Nova…

Nessa simbiose entre devassidão e degradação, o autor expõe as pechas dos pré-conceitos, dos preconceitos e da marginalização. Rápidos, cortantes e impactantes, os textos trazem com crueza o ambiente segregado da parte velha da cidade, onde sexo e violência caminham lado a lado e em rumo oposto ao da lei e da moral vigentes. Apesar do aspecto brutalizado pela própria realidade em que se inspira, Pessôa, como um artista múltiplo, consegue emprestar um olhar poético e terno a essas histórias, usando poemas como epígrafes para abrir o teor forte que vem a seguir.

O título é lançamento da Tinta Negra Bazar Editorial e já está à venda nas livrarias.

 

DADOS

 

título: VÊNUS NA PARTE VELHA DA CIDADE

assunto: contos; ficção

editora: TINTA NEGRA

isbn: 978-85-63876-62-1
idioma: Português
encadernação: Brochura
formato: 14 x 21

páginas: 100
ano de edição: 2014

ano copyright: 2014

edição: 1ª
autor: Augusto Pessôa

ilustrador: Augusto Pessôa

TEXTO  ORELHA

Por Fausto Fawcett

 

Em Venus Na parte velha da cidade Augusto Pessôa faz uma precisa biopsia dos corações despedaçados que andam  batendo por ai.  Com uma espécie de ternura mórbida ele nos mostra a procura, os becos sem saída, as ansiedades, os desesperos e conformismos das pessoas  na tentativa de saciarem suas rações afetivas  tão prejudicadas pela vida . Augusto toca na ferida aberta da nossa condenação ao amor, porque é isso mesmo, estamos condenados a amar, a pertencer a alguma turma, a alguém, a algum sonho ou pesadelo por força dos básicos instintos gregários bem longínquos que desafiam a nossa solidão primordial e inevitável. Pré-história de básicos instintos gregários entranhados dentro da gente  em luta constante com outra pré historia, a dos  básicos instintos desagregadores  como  egoísmos ferozes, ódios e incompreensões, desencontros conosco, com a sociedade encarando o outro como objeto de rapina. Rações afetivas. Para a maioria dos humanos, dói não conseguir pertencer. Falei isso por conta dos personagens de Augusto (principalmente os travestis que já tem que ser muito guerreiros para simplesmente existirem) acuados por algum fetiche amoroso, alguma situação de paixão, alguma tara possante, algum perigo que sacode suas vidas dando um sentido estranho, bizarro para elas.  Falo dos personagens, mas  podemos tranquilamente expandir essa situação para um perímetro social muito maior, ou seja, a multidão geral que nos cerca. Podem crer.

Augusto para fazer sua biopsia situa os personagens na parte velha da cidade um lugar propicio para a circulação de uma fauna peculiar de  criaturas à deriva ou semi marginalizadas portanto com os fios da eletricidade afetiva prestes a serem desencapados jogando essa turma em situações de insanidade extravagante, últimos redutos de afirmação afetiva, amorosa, últimos gritos de força vital.      

O ponto de convergência dessa malta é a boemia em torno de um bar e quatro situações são preponderantes nos contos de Augusto: a vontade  patética e desesperada de se convencer a si próprio ou aos outros de se estar vivendo um caso de amor, de se estar sendo querido (Odete , Torta , Mais Nova), as taras assassinas de posse absoluta do ser desejado(Russo e Olhos), o fetichismo que transforma pessoas em monges da obsessão delirante e as vezes quase humilhante e sem pudor pelo ser amado (Gorda, Preto, Ratazana) e as mais contundentes pois mostram as tais insanidades à espreita como bactérias oportunistas cultivadas pela vida  de afetos conturbados   ou mínimos ( Mamãe, Operada e Vênus) não à toa vividas por travestis que, mais do que qualquer ser humano, estão  envolvidos com ambiguidades, paradoxos , contradições  e superações.   

Venus na parte velha da cidade é um excelente retrato cheio de retoques  sádicos, mórbidos, desesperados, mas extremamente compassivo e amoroso dos corações despedaçados por ai.  Da luta pelas rações afetivas por aí.  Retrato de primeira. Pra ser curtido com vontade.

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