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CONTOS

DE ANIMAIS

O MACACO E A COTIA

O Macaco estava na beira da estrada, cuidando da vida dos outros e com a cauda  atravessando o caminho. Perto dele uma cotia comia uma frutinha enquanto tomava o sol da manhã. Ela estava tão feliz que nem reparava no olhar de reprovação do macaco. O danado murmurava consigo mesmo:

 

- Mas olha só! Que descuidada! Fica aí olhando pro nada... comendo essa fruta... tem que tomar cuidado se não pode acontecer uma desgraça!

 

A cotia se espantou:

 

- Falou comigo, compadre macaco?

 

E o macaco respondeu:

 

- E com quem poderia ser, dona cotia? A senhora é muito distraída! Fica aí... olhando para o nada! Olha que pode passar um carro por essa estrada e arrancar o seu rabo!

 

A cotia se espantou de novo:

 

- Mas eu não tenho rabo, seu macaco!

E o macaco insistia:

 

- Isso a senhora diz! Mas depois que perder o rabo não reclame comigo!

 

Nisso veio devagar pela estrada um carro de boi. Vinha com seu gemido rouco e lento deixando duas trilhas pela estrada. E o Macaco continuava na falação:

 

- Cotia, preste atenção! Cuidado com seu rabo! Aqui nessa estrada passa muito carro de boi!

 

A Cotia, cada vez mais espantada, não sabia nem mais o que dizer. O carro de boi se aproximava devagar e já se ouvia aquele ronco grave. E o macaco, enquanto balançava devagar o rabo estendido na estrada, continuava a dar conselhos para a cotia:

 

- O rabo é uma coisa muito importante! Não se deixa ele solto por aí! Olha... escute só... está se aproximando um carro de boi! Se a senhora não prestar atenção pode perder seu rabo! Depois vai ficar reclamando!

 

E a cotia se aborreceu:

 

- Mas, criatura, eu não posso perder uma coisa que eu não tenho!

 

E o macaco:

 

- E ainda por cima é mal criada! Depois não diga que eu não avisei!

 

Nesse exato momento o carro de boi estava bem em cima deles. O macaco, tão preocupado com o rabo que a cotia não tinha, esqueceu do seu. O carro gemeu forte e as duas rodas poderosas, lentas e pesadas, passaram por cima da cauda do pobre macaco. O bicho deu um grito terrível e saiu aos saltos. Deve estar agora em casa pensando que é melhor cuidar da sua vida que da vida dos outros.

 

Adaptação de Augusto Pessôa\

O URUBU E O GAVIÃO

 

Diz que o gavião estava voando de uma forma magnífica pelos céus. De um jeito que só ele sabe fazer, quando viu lá embaixo o urubu. A ave preta estava muito triste e o garboso gavião se aproximou:

 

- O que houve, compadre urubu? Porque essa tristeza toda?

 

E o urubu no seu desalento foi falando:

 

- Ah, amigo gavião, e não é pra ficar triste? Tô com fome e não tenho nada pra comer!

 

E o gavião começou a zombar do urubu:

 

- Ora, que bobagem! Mas porque o amigo não faz como eu que sou forte e poderoso? Tem que sair voando por aí para encontrar comida!

 

E o urubu explicou:

 

- Compadre, eu não sou como o senhor! Só como o bicho morto e frio! Só como se Deus permite!

 

E o gavião continuou a zombaria:

 

- Pois perde tempo esperando! Tem que fazer como eu, que saio voando por aí e encontro caça viva e com sangue quente! Comer carne morta e fria? Que nojo!

 

E o urubu resignado:

 

- Cada um como Deus fez!

 

O gavião se emplumou todo e respondeu:

 

- Pois fique por aí, esperando sua comida, que eu vou me fartar!

 

E o gavião saiu voando, todo empolgado, deixando o urubu quase morto de fome. O garboso caçador foi pelo céu e logo encontrou um bando de rolinhas. Mirou na mais gordinha delas e chispou no ataque. A rolinha era gorda, mas era esperta. Saiu fugindo na maior disparada. E o gavião atrás da rolinha e a pobre fugindo de seu caçador. Até que a avezinha viu uma árvore com um buraco bem no meio. A pequena bateu mais forte as asas e foi seguida pelo gavião. A rolinha passou direto pelo buraco, mas o gavião, que de tão acelerado não conseguiu desviar, entrou direto no buraco e, por ser maior, ficou preso. Todo machucado tentou se livrar daquela prisão, mas não conseguiu.

Lá onde estava, o urubu começou a pensar. Talvez o gavião tivesse razão. Ficando ali parado ele não conseguiria nada. Meio fraco, o coitado saiu voando. Ia assim, sem ter sucesso, até que passou pela árvore onde estava preso o gavião. O prisioneiro pediu desesperado:

 

- Compadre urubu, me ajude!

- Mas ajudar o senhor? O senhor que é tão forte e poderoso!

- Estou preso! Se o senhor me salvar a gente pode caçar junto!

- Compadre, como já lhe disse antes: só como o que Deus me dá! Morto e frio! Por isso... esfrie, compadre! Esfrie!

 

O urubu ficou voando por ali esperando a hora de se alimentar.

 

Adaptação de Augusto Pessôa de conto popular

narrado por José Raimundo dos Santos

em Vitória da Conquista (BA)

  

 

A CASA DO URUBU

 

Era uma vez um urubu que voava tranquilo. Majestoso no seu voo solene. Estava muito tranquilo, aproveitando esse voar magnífico. Estava tão distraído, que nem percebeu o que vinha por aí. De repente, caiu uma chuva tão pesada que parecia que o mundo ia acabar. Era chuva pesada mesmo. De dar medo. Raio e trovão. Trovão e raio. Com certeza ia alagar o mundo. O urubu não quis saber de mais conversa, foi voando como um raio e, sem olhar pra aqui e nem pra acolá, pousou no telhado de uma casa velha. Ficou olhando como as outras aves, que voavam tão rasteiro, iam se arranjar, quando ele, rei dos ares, não tinha onde se esconder. Umas pombas alvoroçadas vinham também fugindo da tempestade e entraram nos pombais como se entrassem nas suas casas. E vai o urubu falou assim:

- Deixa vir o Sol que eu também vou fazer minha casa!

Depois vieram as andorinhas e se esconderam na beirada das telhas. E o urubu tornou a dizer:

- Eu também vou fazer minha casa.

Depois vieram as cambaxirras e se enfiaram no buraco de um muro. Um buraco logo em frente do urubu. O pássaro ficou com inveja. As cambaxirras ficaram muito quietinhas, muito arrumadinhas no seu canto. E vai o urubu e disse:

- Eu também vou fazer minha casa.

Depois um joão-de-barro, morador velho de um ipê seco, meteu a cabecinha fora do buraco de sua casa de terra e ficou espiando a chuva. O urubu tornou a dizer:

- Eu também vou fazer minha casa.

A chuva caía que não era brinquedo. Uma coisa terrível que parecia não ter fim. O vento assobiava danado de bravo. Os trabalhadores vieram correndo da lavoura e entraram na casa onde o urubu estava em cima do telhado. O coitado do urubu estava molhadinho como um pinto e jurando por Deus Nosso Senhor que quando surgisse o Sol ele ia fazer sua casa.

Mas...

Como tudo que é mau não dura tanto... Veio o Sol que iluminou e aqueceu todo o lugar. O urubu, sentindo aquele calor gostoso, não quis saber de mais nada. Sacudiu as asas e voou para esquentar o corpo. Logo que ficou enxuto e bem lá em cima, não se lembrou mais de fazer a sua casa e, muito prosa, ia vendo que os outros pássaros não podiam chegar onde ele estava. Ele voava muito alto. Longe das nuvens. Quando desceu, encontrou com a cambaxirra que estava muito preocupada com a casa de seu compadre. Nervosa ela perguntou ao urubu:

- Quando o compadre vai fazer sua casa? Quer ajuda?

E ele sem querer ser deselegante, mas com pouca paciência respondeu:

- Aí, cambaxirra... Não quero fazer casa! A minha casa é o céu! Você tem casa, mas não é capaz de ir aonde eu vou.

E batendo as asas com força o urubu gritou:

- Quem tem asa... Pra quê quer casa?

E acabou a história.

Adaptação de Augusto Pessôa

 

 

O MACACO E O REI JACARÉ

 

Diz que o macaco morava num lugar onde tinha um monte de bananeiras. Ela cuidava das árvores que davam pra ele frutos suficientes para sua alimentação. E como o macaco cuidava muito bem das bananeiras, os frutos eram os mais gostosos da floresta.

Nesse mesmo lugar vivia um jacaré enorme. Muito grande mesmo. Com mais de três metros de cumprimento. Por ser tão grande e forte, ele decidiu que seria o rei daquelas paragens. E ninguém ousou desobedecer. O jacaré gostava muito de bananas e espichava o olho para as frutas do macaco. O suposto rei resolveu roubar as bananas do seu dono. Ordenou que o papagaio pegasse as frutas e trouxesse para ele. A ave tentou pegar, mas o macaco não arredava pé daquele lugar e não deixava ninguém se aproximar de suas bananas.

Mas o papagaio era esperto e inventou uma história para enganar o macaco. Chegou de mansinho e foi puxando conversa:

 

- Como vai, macaco?

- Vou bem, papagaio! E você?

 

E o penoso:

 

- Eu estou bem! Graças a Deus! E o seu irmão melhorou?

 

Macaco estranhou:

 

- Meu irmão? Melhorou? Como assim? Não sabia que ele estava doente!

           

E o papagaio jogou uma conversa mole:

 

- Ih... não sabia, não? Diz que seu irmão está muito doente! Está morre, não morre!

 

O macaco ficou desesperado:

 

- Meu irmão... coitado! Mas como é que você soube disso, seu papagaio?

- Ah... as notícias correm... os ventos trazem... Conheço muitos pássaros que moram perto do seu irmão e me disseram que ele está muito mal sem fala!

 

 O macaco ficou preocupado:

 

- Coitado do meu irmão! Eu vou lá fazer uma visita! Eu tenho que ajudar! Ah... mas como eu vou deixar minhas bananas? Quem é que vai cuidar das minhas frutas?

 

E o papagaio:

 

- Ah... pode ir sossegado, amigo! Eu tomo conta das suas bananas pra você!

 

O macaco saiu correndo pra casa do irmão e não entendeu nada quando chegou lá. O irmão estava muito bem de saúde, pulando e brincando todo pimpão. Só entendeu quando voltou para sua casa e não encontrou nenhuma banana pra contar a história.  Ele foi tomar satisfações com o papagaio que muito sem graça tentou explicar:

 

- Ih, macaco... fiz isso obedecendo as ordens do rei Jacaré! Eu não posso com ele e tive que obedecer!

 

O macaco ficou com muita raiva:

 

- Rei Jacaré? E quem disse que esse fuleiro pode ser rei? Eu vou na casa dele pegar as minhas bananas de volta!

 

A cobra que era muito fofoqueira, estava passando por ali, ouviu a conversa e foi ligeira até o rei Jacaré contar tudo o que macaco falou. O monarca ficou furioso e gritou alto:

 

- Ah... é assim? Quero ver se esse macaco é mesmo valente! Quero ele aqui na minha presença hoje mesmo!

 

A própria cobra foi levar o recado ao macaco, que logo começou a tremer que nem uma vara verde. Ele era valente só nas palavras. A ideia de enfrentar o tamanho e os grandes dentes de sua majestade Jacaré, o apavorou completamente. Mas... que jeito! O outro era rei e tinha que ser atendido. Mas se o macaco não era muito valente, era muito inteligente e logo bolou um plano para enganar o jacaré. Passou pelo corpo todo uma cera muito grudenta e foi para casa do monarca.

O rei Jacaré quando viu o macaco abriu a grande boca e falou com voz grossa:

 

- Ouvi dizer que você queria vir aqui tomar de mim, o rei, essas bananas! Isso é verdade?

- De jeito nenhum, majestade! Eu e minhas frutas só existimos para servi-lo!

- Fico satisfeito em saber disso! - disse o monarca – Sem dúvida foi uma mentira! Senta ai! Quero falar com você! Mas sente de frente pra mim e sem tocar nas bananas que estão ai atrás!

 

O macaco sentou com jeito e apoiou com força as costas, inteiramente cobertas de cera grudenta, nas bananas. E o rei Jacaré continuou a conversa:

 

- Disseram pra mim que você conhece muitas histórias, anedotas e adivinhas! Porque não conta uma pra mim?

- Com todo prazer, majestade! Não sou rei como o senhor, mas dou minhas cacetadas! Vou propor uma adivinha!

 

O macaco se ajeitou, apertou mais as costas nas bananas fazendo que as frutas grudassem ainda mais na cera e disse de uma vez:

 

- Majestade, diga logo sem demora

Como se fosse uma canção:

Como posso pegar uma coisa

Sem usar a boca, o pé ou a mão?

 

O rei Jacaré pensou... pensou, mas não descobriu a resposta.

 

- Isso é impossível, macaco! Ninguém pode pegar nada sem usar a boca, o pé ou a mão!

- Pode sim, majestade! É só usar uma cera grudenta nas costas, seu bobalhão!

 

O macaco disse isso, deu um pulo e virou de costas para o Jacaré mostrando as bananas grudadas na cera. O monarca ficou furioso abriu o bocão para engolir o macaco de uma só vez. A sorte é que o espertalhão era rápido e saiu em disparada dando saltos. Mas o rei jacaré estava com muita raiva e correu atrás do macaco. E foi um corre-corre desesperado. O macaco, vendo que podia ser alcançado, subiu numa montanha muito alta. O monarca foi atrás. Quando o macaco estava bem no alto, na beira de um precipício, comeu algumas bananas e jogou as cascas no chão. Não demorou muito, apareceu o rei jacaré com a boca cheia de dentes aberta. E o macaco gritou:

 

- Não se aproxime de mim se não vai se arrepender!

 

E o Jacaré bufando de raiva rosnou:

 

- Eu sou um rei! Um rei poderoso e vou acabar com você!

 

E o macaco respondeu:

 

- É rei coisa nenhuma! Não passa de um bobalhão! Não se aproxime de mim porque será o seu fim!

 

O Jacaré, explodindo de ódio, foi com tudo pra cima do outro. Quando o monarca chegou bem perto, o macaco deu um pulo para o alto. O Jacaré tentou abocanhá-lo no ar, mas escorregou nas cascas de banana e caiu no precipício desaparecendo para sempre.

Os bichos ficaram sabendo da façanha do macaco e resolveram aclamá-lo o novo soberano. E o nosso herói reinou por muitos anos com muita sabedoria e prudência.

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

HISTÓRIA DA BARATINHA

 

Dona Baratinha fazia uma boa faxina na sua casa. Até que ela encontrou uma moeda de ouro. Aquilo valia uma fortuna. Dona Baratinha pegou a moeda, guardou numa caixinha e pensou: Estou rica!

Ela comprou roupa nova e ficou mais bonita ainda. Mas sentia que faltava alguma coisa. E foi então que ela teve uma ideia: colocou uma fita no cabelo, foi para janela e falou:

 

- Quem quer casar com a senhora Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?

 

Apareceu logo um pretendente: garboso e com uma crina penteada. Era o Cavalo. Dona Baratinha quando viu o Cavalo suspirou e perguntou:

 

- Senhor Cavalo, como é que vai me chamar?

 

O Cavalo garbosamente deu aquela relinchada: RINNNNNNNNN!

Dona Baratinha tomou um susto:

 

- Senhor Cavalo, o senhor é muito bonito, mas eu não posso com esse barulho! Desculpe... Mas não quero!

 

O cavalo foi embora. A Baratinha voltou para janela falando assim:

 

- Quem quer casar com a senhora Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?

 

Apareceu o segundo pretendente: muito alerta e valente. Era o cachorro. Dona Baratinha quando viu o cachorro suspirou e perguntou:

 

- Senhor cachorro, como é que vai me chamar?

 

O cachorro encheu o peito e latiu. Latiu alto: AUUUUUUUUU!

 

Dona Baratinha tomou um susto:

 

- Senhor Cachorro, o senhor é muito valente, mas eu não posso com esse barulho! Desculpe, mas eu não quero!

 

O cachorro foi embora. A Baratinha voltou para janela falando assim:

 

- Quem quer casar com a senhora Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?

 

De repente surgiu ele, todo ligeirinho e com um bigode simpático. Era o Rato. Dona Baratinha quando viu o Rato suspirou ... fundo! E perguntou:

 

- Senhor Ratão, como é que vai me chamar?

 

O Rato deu um guinchinho. ShiShiShiShiShi!

Um barulho bem baixinho e gostoso. Dona Baratinha ficou encantada. Ali mesmo marcaram a data do casamento. A Baratinha resolveu preparar uma feijoada para a festa.

No dia do casório, a noiva foi para a igreja acompanhada das damas. O Ratão também foi para a igreja, mas quando passou na frente da casa da Baratinha, sentiu um cheiro gostoso. Era a feijoada! O Ratão entrou na casa e foi até a cozinha. Em cima do fogão viu o panelão de feijão fervendo. Ficou encantado com aquele cheiro e foi se aproximando mais da panela. Chegou perto, bem pertinho, e - tibum!- caiu dentro da panela de feijão.

Na igreja, Dona Baratinha e os convidados esperavam e esperavam... Até que alguém sugeriu:

 

- Por que não fazemos primeiro a festa e depois o casório?

 

Todos concordaram e foram para a casa da Baratinha. Chegaram lá e encontraram o Ratão dentro da panela de feijão! Cozidinho no meio do panelão.

Dona Baratinha se aproximou, sentiu um aperto no coração e chorou muito. Chorou por uma semana. Depois, colocou a fita de novo no cabelo, foi para a janela e falou assim:

 

- Quem quer casar com a senhora Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

 

 

O MACACO E O BICHO FOLHARAL

 

Você sabe o que é aluá? Tem dois tipos de aluá: pode ser um refresco da casca do abacaxi ou pode ser um doce com milho ralado. E essa história começa com o macaco querendo muito comer o aluá, o doce com milho. Mas ele não tinha nem uma espiga em casa. Com muita vontade, o macaco foi até a casa da amiga galinha. Mas a penosa, que conhecia a fama de malandro do outro, não estava querendo conversa:

 

- O quer você quer aqui, macaco?

 

O visitante se fez de ofendido:

 

- Mas, comadre galinha, é assim que você recebe um amigo?

- Sei... amigo... você só sabe é aprontar com todo mundo!

 

E o macaco foi por aí:

 

- Pois vou mostrar pra senhora que essa fama é injusta! Vim aqui fazer um favor para a amiga!

 

A galinha desconfiou:

 

- Um favor? Como assim?

 

E o macaco continuou:

 

- A senhora tem espiga de milho aí?

- Tenho! Mas essa espiga é pra fazer o meu aluá!

- Mas a senhora, que é tão distinta, vai perder tempo fazendo aluá? Vai estragar as suas penas ralando milho? Cansar suas asas mexendo em panela? A senhora não precisa disso! Dê para mim as espigas, que eu levo e faço o aluá! Daqui a umas duas, a senhora passa lá em casa e a gente come o aluá, sem trabalho nenhum para a amiga!

 

A galinha ficou desconfiada, mas a proposta era boa. Ela também estava com vontade de comer aluá, mas não queria ter muito trabalho. Pensou bem e deu as espigas para o macaco. O danado colocou aquele monte de espigas num saco e foi embora. Mas ele achou pouco. Estava com muita vontade de comer aluá. E foi até a casa da raposa. Chegou e foi logo falando cheio de alegria:

 

- Comadre raposa, quanto tempo!

 

A raposa que era muito metida e conhecia a fama de malandro do macaco respondeu:

 

- O que você quer aqui?

- Mas, comadre, é assim que a senhora recebe os amigos?

- E quem disse que eu tenho amizade com você, macaco?

- A nossa amizade é de longa data! A senhora sabe disso! A amizade é tanta que eu vim aqui para lhe ajudar!

 

A raposa desconfiada quis saber:

 

- Ajudar? Como assim?

 

E o macaco foi por aí:

 

- A senhora tem umas espigas de milho?

- Tenho milho para fazer o meu aluá!

- E a senhora, tão elegante, vai perder seu tempo precioso fazendo aluá? Vai estragar as suas patinhas ralando milho, mexendo em panela? A senhora me dá as espigas, que eu faço todo o trabalho! Daqui a umas duas horas e meia, a amiga passa lá em casa que a gente come o aluá! Que tal?

 

A raposa coçou a cabeça. A fama do macaco não era boa, mas ela estava com muita vontade de comer o doce e ao mesmo tempo com uma preguiça danada de fazer. Pensou bem e entregou as espigas para o macaco. O malandro colocou aquele monte de milho no saco e foi embora. Mas o faminto ainda achou pouco. Ele queria muito aluá e foi até a casa da onça. Chegou todo animado e anunciou:

 

- Comadre onça, olha só quem chegou: o seu compadre macaco!

 

A onça era muito mal-humorada e não queria conversa:

 

- Comadre uma ova! Eu quero respeito! Desde quando eu dei filho meu pra você batizar, coisa ruim?

 

E o macaco, com voz mansa, tentou enrolar a onça:

 

- O que é isso, amiga? Eu vim aqui, justamente, mostrar toda a minha amizade pela senhora!

 

A onça quis saber:

 

- E como é que vai ser isso?

 

E lá foi o macaco:

 

- Assim como eu estou dizendo! Vim mostrar a minha amizade! A senhora tem milho guardado?

- Tenho! Mas é para fazer o meu aluá!

- Pois é exatamente nisso que eu vou lhe ajudar! A senhora que é a rainha das matas, a toda poderosa da floresta, a grande caçadora, não pode perder seu precioso tempo fazendo aluá, não é mesmo? Não fica nem bem...

 

A onça que era mal-humorada, mas era também a personificação da vaidade gostou de ouvir aquelas palavras e perguntou:

 

- E o que tem isso? Como é que eu você vai me ajudar?

- Fazendo o aluá pra senhora! É só me dar as espigas, que eu levo pra casa e preparo o doce digno da sua realeza! Depois a senhora passa lá na minha humilde choupana, daqui umas três horas, que o aluá vai estar pronto pra ser saboreado! Que tal?

 

A onça ficou satisfeita com tantos elogios e deu as espigas para o macaco. O esperto colocou tudo no saco e levou pra casa. Era muito milho. Deu um trabalho enorme. O macaco ralou, mexeu, buliu e fez aquele monte de doce. Colocou tudo num grande tacho de madeira e pôs em cima de uma mesa, que ficava fora de sua casa, do lado de uma árvore comprida. Aquele doce, em cima da mesa, chegava a brilhar de tão bonito. E o macaco falou consigo mesmo:

 

- Será que está bom? É melhor experimentar um pouquinho...

 

Com o dedo, ele tirou um pedaço de doce e comeu. Estava uma delícia. E o macaco falou de novo consigo mesmo:

 

- Mas está maravilhoso! Se eu comer mais um pouco não vai fazer falta...

 

E o guloso foi de novo com o dedo, tirou mais um pedaço e comeu. Estava inacreditável de tão bom. E o macaco mais uma vez falou consigo mesmo:

 

- Ah... se eu tirar só mais um pedacinho não vai fazer falta, né?

 

E assim foi, até não sobrar nem uma lasquinha de aluá. O tacho de madeira ficou limpinho. Passaram as duas horas, o macaco subiu na árvore e ficou esperando a primeira visita. Não demorou muito e apareceu a galinha. Chegou de bico empinado e foi logo exigindo:

 

- Macaco, onde está o meu aluá?

 

E o espertalhão se fez de desentendido:

 

- Aluá, galinha? Que aluá?

- Como assim “que aluá”? - perguntou a penosa – Nós não combinamos que eu daria o milho e você faria o aluá?

 

O macaco se espreguiçou e disse bocejando:

 

- Ah... é isso! Mas isso tem tanto tempo...

 

A galinha foi perdendo a paciência:

 

- Como assim “tanto tempo”? Nós combinamos isso hoje! Eu quero o meu aluá, seu malandro safado!

 

E o macaco se fez de ofendido:

 

- Agora você vê... a gente recebe a criatura na nossa casa e ela vem cheia de ofensa! Cheia de nome feio! Pois fique sabendo, dona galinha, que eu comi todo o aluá!

 

A galinha ficou furiosa:

 

- Seu ladrão! Malandro! Isso é um absurdo!

 

E o macaco:

 

- Absurdo? Absurdo é a senhora entrar na minha casa e ficar me ofendendo! Aposto que minha comadre raposa não vai fazer isso!

 

A galinha, quando ouviu o nome de sua inimiga, ficou apavorada:

 

- Raposa?... A raposa vem aqui?

 

E o macaco continuou:

 

- Deve estar chegando logo, logo! E, diferente da senhora, a comadre raposa é muito pontual!

 

A galinha ficou desesperada:

 

- Ai, meu Deus! Se a raposa me pega aqui ela acaba comigo!

 

E o macaco se fez de amigo:

 

- Não se preocupe! Eu vou lhe ajudar! Eu não devia porque a senhora foi muito deselegante comigo! Mas eu sou generoso! Esconda-se embaixo da mesa que eu despacho a raposa!

 

Rapidamente a galinha entrou embaixo da mesa. Foi ela se esconder que a raposa chegou. Veio com o nariz empinado e logo exigindo:

 

- Macaco, cadê o meu aluá?

 

O espertalhão subiu um pouco mais na árvore e reclamou:

 

- Mas o que está acontecendo com esse pessoal? Não se diz mais bom dia... boa tarde... boa noite... Cadê a educação desse povo?

- Do que você está falando? - quis saber a raposa.

- Da falta de educação desses bichos! - respondeu o macaco – A galinha também chegou aqui exigindo isso e aquilo!

 

Quando a raposa ouviu “galinha” ficou toda animada:

 

- A galinha está por aqui? Cadê ela?

 

E o macaco:

 

- Nem adianta que eu não vou falar! Mas não falo mesmo! Não falo de jeito nenhum que ela está embaixo da mesa!

 

Num instante a raposa pulou embaixo da mesa e comeu a galinha inteira. Saiu de lá lambendo os beiços e falando assim:

 

- Agora, macaco, eu quero o meu aluá!

 

E o macaco se fez de ofendido:

 

- A senhora é engraçada! Vem na minha casa, almoça a minha visita e ainda fica pedindo aluá! Pois fique sabendo que não tem aluá nenhum! Eu comi tudo!

 

A raposa tentou pular para pegar o macaco, mas não conseguiu. Ficou furiosa e esbravejou:

 

- Você vai ter que descer, seu malandro! E quando descer eu pego você!

 

E o macaco perguntou:

 

- Toda essa confusão por causa de um aluá? Um docinho até meio sem graça...

 

E a raposa cuspia fogo de tanta raiva:

 

- É por isso mesmo, seu moleque! Eu vou esperar aqui o tempo que for preciso! Você vai descer e eu vou lhe dar uma lição!

 

E o macaco na maior calma:

 

- Não se preocupe, dona raposa! Não vou demorar a descer! Minha comadre onça deve estar chegando e eu tenho que recebê-la muito bem! Porque ela, diferente da senhora, é muito educada!

 

Quando a raposa escutou “onça” ficou muito nervosa:

           

- A onça? A onça vem pra cá?

 

E o macaco:

 

- Claro que vem! Nós somos amigos há muito tempo! Ela vem me fazer uma visita cordial! Por quê?

 

E a raposa tremendo respondeu:

 

- A onça quer acabar comigo! Se ela me encontra aqui eu estou perdida!

 

E o macaco se fez de amigo:

 

- Não se preocupe, raposa! Eu vou lhe ajudar! Eu não devia porque a senhora foi muito grosseira comigo, mas eu vou lhe ajudar! Eu sou um bicho bom! Por isso eu vou lhe ajudar! Se esconda embaixo da mesa que eu despacho a onça! Isso é um favor, porque ela é muito minha amiga!

 

Foi a raposa se esconder que a onça apareceu. Chegou falando grosso como é seu costume:

 

- Macaco, eu quero o meu aluá!

 

O malandro subiu bem alto na árvore. Tão alto que a onça não conseguiria alcançá-lo de jeito nenhum e respondeu:

           

- Aluá? Não sei de aluá nenhum, onça!

 

A onça bateu com força na mesa e berrou:

 

- Não estou aqui de brincadeira, macaco! Eu quero o meu aluá agora!

 

E o macaco na maior calma:

 

- Eu não sei o que está acontecendo com esses bichos! A raposa também entrou aqui atrás de aluá...

 

Quando a onça ouviu “raposa”, lambeu os beiços:

 

- Raposa? A raposa está aqui?

 

O macaco respondeu perguntando:

 

- Pra que a senhora quer saber?

- Porque eu vou acabar com ela! - respondeu a onça.

- Ah... mas eu não vou dizer onde está a raposa! A senhora pode pedir, pode implorar até de joelhos que eu não digo! Não digo de jeito nenhum que a raposa está embaixo da mesa!

 

Foi o macaco dizer isso que a onça, com toda a força, jogou a mesa longe. Ela pegou a raposa e engoliu inteirinha. Depois, lambendo os beiços, ela exigiu:

 

- Agora quero o meu aluá!

 

E o macaco se fez de novo de ofendido:

 

- Mas esse povo é muito engraçado mesmo! A senhora vem na minha casa, joga a minha mesa longe, lancha a minha visita e ainda quer sobremesa? Pois fique sabendo que não tem aluá nenhum! Eu comi tudo, onça!


A pintada grandalhona ficou muito furiosa e quis pegar o macaco. Mas o danado estava muito no alto e a onça, por mais que pulasse, não alcançava.

Mas a malhada jurou vingança.

A grandona chamou todos os seus primos e mandou eles tomarem conta de tudo quanto era rio. Ela queria matar o macaco de sede. E os primos da onça ficaram vigiando as águas. Podia passar tudo quanto era bicho. Menos o macaco. E o pobre malandro guloso estava que não se aguentava. Depois de ter comido aquele aluá todo, ele precisava muito beber água. Mas como? Se os primos da onça estavam de sentinela e não deixavam ele passar de jeito nenhum.

Mas o macaco teve uma ideia: se cobriu todo de mel, foi no matagal e rolou nas folhagens secas. A folhas grudaram e cobriram todo o seu corpo que nem se via o macaco por baixo daquilo tudo. Disfarçado, ele foi andando meio capengando para o rio. Um dos primos da onça quando viu aquele bicho estranho comentou com o outro:

 

- Primo, que bicho é aquele?

 

E o outro respondeu:

 

- Não sei, primo! Nunca vi esse bicho!

 

E o macaco, sempre capengando, começou a falar com uma voz engraçada:

 

- Sou bicho folharal! Sou bicho folharal!

 

E o primo da onça estranhou ainda mais:

 

- Bicho folharal? Você já ouviu falar desse bicho, primo?

 

E o outro:

 

- Nunca ouvi falar! Bom... Mas pelo menos não é o macaco!

 

E o macaco disfarçado começou a beber água. Ficou tão empolgado, que foi entrando no rio e se banhando todo. E as águas do rio foram amolecendo o mel, as folhas foram caindo e num instante o disfarce do macaco tinha desaparecido totalmente. Os primos da onça, quando viram o espertalhão, pularam na água para tentar pegá-lo, mas o macaco foi mais rápido e fugiu rapidinho.

Quando a onça soube que o macaco conseguiu beber água, ficou furiosa. Mas logo pensou em um outro plano para pegar aquele malandro. Foi até um caminho, onde o macaco sempre passava, e mandou os primos abrirem um buraco grande. Ela deitou no buraco e os primos cobriram tudo. Só a boca ficou de fora.

Não demorou muito, o macaco veio pelo caminho. Quando viu aquele buraco, estranhou, tomou um susto e comentou consigo mesmo:

 

- Menino, eu nunca vi uma coisa dessa: um buraco com dente! Eu já vi dente com buraco, mas buraco com dente é a primeira vez! Mas isso é um perigo! Pode cair uma criança ou uma senhora! Eu vou tapar!

 

Ele pegou uma pedra grande e... TUM... tapou aquele buraco estranho. E o macaco pode viver tranquilo as suas estripulias porque nunca mais se ouviu falar daquela onça.

E acabou a história.

 

Adaptação de Augusto Pessôa

In MACACADA

Editora Escrita fina

O PINTO PELADO

 

Há muito tempo atrás, na época que os bichos ainda falavam, nasceu no galinheiro um pinto. Mas era um pinto diferente. Não tinha nenhuma penugem na cabeça. Era totalmente careca. Os galos, as galinhas e principalmente as frangas implicavam muito com ele:

 

- Sai pra lá, pinto! Ai, que pinto feio! Sai pra lá!

 

E batiam muito nele. O pinto já estava cansado disso e resolveu fazer uma reclamação ao Rei. Pegou sua sacola e já ia saindo do galinheiro, quando viu um papelzinho. Era um papel amassado, sujo, todo rabiscado. O pinto, que não sabia ler, achou que aquela seria sua carta ao Rei. E foi andando... andou... andou... até que escutou uma voz:

 

- Pinto! Oh, pinto! Pra onde você vai?

- Quem está falando?

- Sou eu... a raposa. Pra onde você vai?

- Eu vou levar uma carta ao Rei!

- Posso ir com você?

- Pode.

 

A raposa entrou na sacola do pinto e ele continuou a caminhada. Andou... Andou... Andou... Até que sentiu sede. Foi beber água num grande rio. Mas tão grande, que não dava nem para ver a outra margem do rio. O pinto estava matando a sede, quando ouviu uma voz:

 

- Pinto! Oh, pinto! Pra onde você vai?

- Quem está falando?

- Sou eu... O rio. Pra onde você vai?

- Eu vou levar uma carta ao Rei!

- Posso ir com você?

- Mas senhor rio, o senhor é muito grande! Como é que eu vou levar o senhor?

- Ah... Eu me enrosco... Me enrolo... Fico bem pequeno e vou com você.

- Então, está bom!

 

E o rio, que era enorme, se enroscou... Se enrolou... Ficou bem pequeno e entrou na sacola. E o pinto disse assim:

 

- Olha, cuidado para não molhar a raposa!

 

E o pinto continuou sua caminhada. Andou... Andou... Andou... até que encontrou um enorme espinheiro. Com cada espinho desse tamanho. O pinto já ia desviando, quando ouviu uma voz:

 

- Pinto! Oh, pinto! Pra onde você vai?

- Quem está falando?

- Sou eu... O espinheiro. Pra onde você vai?

- Eu vou levar uma carta ao Rei!

- Posso ir com você?

- Mas senhor espinheiro, o senhor é muito grande! Como é que eu vou levar o senhor?

- Ah... Eu me aperto... Me espremo... Fico bem pequeno e vou com você.

- Então, está bom!

 

E o espinheiro, que era enorme, se apertou... se espremeu... ficou bem pequenininho e entrou na sacola. E o pinto disse assim:

 

- Olha, cuidado pra não se molhar no rio e nem espetar a raposa!

 

E o pinto continuou sua caminhada. Andou... Andou... Andou... Até que chegou ao palácio do Rei. Os guardas acharam graça naquele pinto tão empinado e deixaram-no passar. O pinto entrou no palácio. Andou por salas, por salões, até que chegou na sala do trono. No final da sala o Rei sentado no trono. O pinto aproximou-se e entregou a carta. Lembra? Aquele papel sujo, amassado e rabiscado. Quando o Rei pegou aquele papel ficou irritado:

 

- Que pinto abusado! Entregar um papel todo sujo ao Rei! Prendam esse pinto!

 

O pinto nem teve tempo de piar. Os guardas agarraram o pinto e o jogaram no galinheiro real. As galinhas do galinheiro real eram muito metidas. De bico empinado. Achavam que tinham o sangue azul. E não gostaram daquele pinto:

 

- Que pinto é esse? Pinto feio! Careca! Sai pra lá, pinto! Sai!

 

E começaram a bater no pinto. Olha só: o pinto que tinha saído do seu galinheiro porque estava apanhado, foi para o galinheiro real para apanhar também. Ele estava desesperado, quando ouviu uma voz:

 

- Pinto! Oh, pinto, me solta que eu resolvo!

- Mas quem é que está falando?

- Sou eu... A raposa. Me solta que eu resolvo!

 

O pinto abriu a sacola. A raposa saiu lá de dentro. Matou cinco galinhas a dentadas e outras dez morreram do coração. O pinto aproveitou a confusão e fugiu. Mas o Rei viu e gritou:

 

- Prendam esse pinto!

 

Todos os guardas foram atrás do pinto. E o pinto corria... E os guardas atrás... O pinto corria... E os guardas atrás... Quando os guardas estavam quase pegando o pinto, ele ouviu uma voz:

 

- Pinto! Oh, pinto! Me solta que eu resolvo!

- Quem é que está falando?

- Sou eu... O rio. Me solta que eu resolvo!

 

O pinto abriu a sacola e libertou o rio. O rio que estava bem pequenininho... Enroscadinho... Cresceu! Ficou enorme! Olha, teve guarda afundando. Teve guarda se afogando. Mas teve guarda que pegou canoa e foi atrás do pinto. E o pinto corria... E os guardas atrás... O pinto corria... E os guardas atrás... Quando os guardas estavam quase pegando o pinto ele ouviu uma voz:

 

- Pinto! Oh, pinto! Me solta que eu resolvo!

- Mas quem é que está falando?

- Sou eu... O espinheiro. Me solta que eu resolvo!

 

O pinto abriu a sacola e libertou o espinheiro. O espinheiro que estava bem pequenininho... Bem apertadinho... Cresceu! Ficou enorme! Com cada espinho desse tamanho! E os guardas ficaram presos nos espinhos. Ufa! O pinto conseguiu se salvar. Mas não conseguiu fazer sua reclamação ao Rei. Resolveu voltar para casa assim mesmo. Andou... E andou... Até que avistou o galinheiro. Duas frangas, que estavam na porta do galinheiro, olharam para ele e disseram:

 

- Nossa, que galo bonito!

 

O pinto estranhou e olhou pra trás:

           

- Galo? Onde?

 

E as frangas continuaram:

 

- Bonitão. Com uma careca charmosa!

 

E então, o pinto percebeu que, nessas andanças todas, o tempo tinha passado e ele tinha se transformado num galo bonito e forte. Entrou no galinheiro, contou suas aventuras e passou a ser estimado e respeitado por todos.

 

 

Adaptação de Augusto Pessôa

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