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CONTOS

CIGANOS

O BARCO

 

Era uma vez, uma moça cigana que observou que todas as pessoas, quando comiam ovos, costumavam quebrar as cascas todinhas. Só ficavam as migalhinhas. A moça perguntou o motivo deste comportamento e recebeu a resposta:


- Você deve quebrar a casca em pedacinhos. Se não fizer isso, as feiticeiras podem fazer um barco com a casca. Navegando em mares distantes, tarde da noite, as bruxas rondam.

 

E a moça respondeu:

 

- Não vejo porque as pobres feiticeiras não possam ter seus barcos como todas as outras pessoas.


E, dizendo isso, atirou a casca do ovo que comia bem longe. Depois gritou:

 

- Bruxa, essa casca é sua! Faça seu barco!

 

E ela ficou espantada vendo a casca voando com o vento e indo para bem longe até desaparecer. Depois ela ouviu uma voz:

 

- Obrigada!


Tempos depois, a cigana estava numa ilha onde permaneceu por alguns dias. Quando resolveu voltar, percebeu que a maré subiu e levou seu barco para longe. A água continuava a subir. Subir e subir. Até que ficou fora da água apenas uma pontinha da ilha. Exatamente onde a moça estava. A mulher pensou que iria morrer. Nesse exato momento, surgiu um barquinho branco vindo em sua direção. Sentada dentro dele estava uma mulher com olhos de feiticeira. Remava com uma vassoura e um gato preto estava sentado em seu ombro.


- Pule para dentro! - gritou a mulher – Eu levo você para terra firme.


A cigana pulou e as duas foram embora. Quando já estava na praia, a feiticeira disse:

 

- Dê três voltas completas para a direita e, cada vez que completar uma delas, olhe para o barco.


A cigana obedeceu, fazendo exatamente o que a outra mandou. Cada vez que olhava para o barco, ele diminuía, até ficar do tamanho de um ovo. E a feiticeira falou:

 

- Essa é a casca que você mandou pra mim. Muito obrigada.


Terminou de falar e desapareceu no ar junto com o gato, a vassoura e tudo mais.
E acabou a história.

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

O ARCO-ÍRIS

 

Em tempos distantes, os ciganos eram perseguidos e massacrados por povos bárbaros. Eles viviam desesperados e sem perspectivas. Não tinham como se defender de tão terrível perseguição. Os ciganos são da paz e não guerreiam.

No lugar de armas portam seus instrumentos musicais.

No lugar de guerras, cantam suas canções e alegrias.

No lugar da destruição, dançam alegrias e belezas.

No lugar de morte, os seus corações vibram com a alegria de viver e de ser livre.

E em lugar da fome, a mesa sempre farta compartilhada por todos.

Difícil para esse povo ter que agredir ou mesmo matar para se defender.

Eles procuravam a paz, sem que, para isso, tivessem que recorrer a guerra.

Vendo o arco íris, uma cigana pediu, com toda a força, para salvar os que restavam de seu clã e o filho que esperava em seu ventre, dizendo:

 

- Deus do arco-íris que atravessa os céus ligando à terra de uma ponta a outra, eu a cigana, imploro: salve meu povo e nos mostre a terra da paz.

 

E, se jogando ao chão, chorou muito. A cigana, no fundo de sua alma, esperava receber uma resposta. Quando percebeu que as cores do arco íris começavam a brilhar cada vez mais intensamente. O colorido alternava-se com rapidez. Como se fossem as cordas de um instrumento musical. E sons melodiosos começaram. Sua alma ficou calma, uma imensa paz a invadiu, quando ouviu uma voz dizendo:

 

- Cigana, a sina de seu povo será de se espalhar pelo mundo todo, povoar as terras mais distantes, representando-me em sua beleza. O céu será seu teto. A terra seu palco e seu lar. Eu vou atrapalhar a visão dos seus perseguidores para seu povo partir em segurança, mas o filho que você carrega em seu ventre ficará comigo.

 

Neste instante, a cigana segurou seu ventre com as mãos e gritou:

 

- Não, não me peça o meu maior tesouro, ó Deus do arco-íris, eu te peço não tire a vida do meu filho!

 

E a voz do alto disse:

 

- Cigana, fique calma! Seu filho não vai morrer. Como um tesouro ele será guardado por mim. Ele fará com que minhas cores ganhem vida nas suas vidas. Suas mãos estarão eternamente trazendo, para todas as suas gerações, moedas de ouro! A ele será dado o pote encantado. Em minhas cores, que vocês passarão a usar, estará o encantamento e a magia. Seu filho encantado estará, para sempre, animando as cores em suas almas e espíritos. Com o verde terão a esperança e a fartura. Com o vermelho, a vida, o entusiasmo e o vigor. Com o amarelo, a realeza e a riqueza. Com o azul levarão a serenidade e a intuição. Com o laranja, a energia, a vitalidade e a emotividade. Com o violeta levarão a transmutação e perseverança. Com o rosa, o amor, a beleza, a moralidade e a música.

 

Como mágica, a cigana viu seu filho flutuando em direção ao arco íris. Ele ficou envolto por cores cintilantes e seus cabelos ficaram dourados e caíram em forma de moedas de ouro.

Desse dia em diante, os ciganos se dispersaram pelo mundo.

Levam o encanto de suas roupas coloridas e a atração pelo ouro. O colorido de suas roupas é a força de suas vidas.

O brilho do ouro é o brilho do tesouro mais valioso que é o Dom de viver.

No final do arco-íris existe um pote de ouro para trazer sorte, dinheiro e felicidade. Isso tudo para mostrar que a união, o amor pela vida e a liberdade é que são os maiores tesouros.

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

A ORIGEM DO POVO CIGANO

 

Uma lenda, muito antiga, fala de um povo que vivia no subterrâneo de uma ilha perdida no meio do Oceano Atlântico. Essa ilha era encoberta por um nevoeiro denso, e somente um dia, a cada sete anos, tornava-se visível.

Os habitantes desse lugar viviam no escuro, e por isso, não tinham contato com a Natureza e com a liberdade.

Os dias passavam sem que aquele povo vivesse algo de novo. Não tinham novas emoções e viviam uma rotina entediante.

Até que um rapaz viu uma claridade em um canto e resolveu segui-la. Ele viu uma estreita passagem. Cheio de curiosidade, ele decidiu seguir em frente. Passou pela fenda, caminhou, escalou, saltou, até que se viu na superfície.

A emoção tomou conta daquele homem. Imagine uma vida inteira transformada de um instante para outro. Viu uma claridade jamais experimentada. Ficou espantado com tudo ao seu redor: as árvores imensas e os arbustos, os pássaros, os bois, as borboletas, os riachos e os rios, as nuvens e tudo mais. Ficou com medo quando o sol desapareceu e a noite surgiu. Junto com a escuridão da noite, uma misteriosa bola branca e arredondada que trazia luz. O rapaz ficou encantado com aqueles pontos luminosos, uns mais fortes e outros mais fracos, que cobriam o manto escuro da noite. Caminhou, caminhou, até que adormeceu.

Acordou, com a luz do sol, e se viu cercado de gente. Um povo curioso, mas amistoso.

Contou toda sua história e ouviu a deles.

Eles comeram, cantaram e dançaram em torno da fogueira, quando a noite voltou.

Depois de uma semana, o rapaz sentiu saudade de seu povo. Ele prometeu voltar, mas foi pelo mesmo caminho e retornou para a profundeza.

De volta ao seu povo, foi recebido com festa. Mas também foi recriminado: o seu lugar era ali. Qualquer outro lugar era proibido. Ele devia esquecer sua aventura como se fosse um pesadelo. Mas o rapaz falou:

 

- Como um lugar cheio de luz, fartura, festa e alegria pode ser mau?

 

Ele quis ter aquilo como um direito e não como pesadelo para esquecer.

Todos do subterrâneo ficaram encantados quando o rapaz contou sua aventura. Eles queriam viver as mesmas sensações. Queriam a luz, o sol, o verde, a liberdade e a vida.

Por isso, foram até a divindade. Com generosidade e grandeza, a divindade atendeu ao pedido daquele povo e disse:

 

- Vocês estão livres para viver na superfície! Mas com algumas condições: vocês serão filhos do vento, do sol, da lua e das estrelas! Não terão uma terra sua. Vão conhecer todas as terras. Serão errantes e terão carroças como casas. Terão uma vida de magia, alegria e encantamento!

 

E assim surgiu o povo cigano.

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

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